"A braçadeira de capitão não vai mudar nada. Serei o mesmo." A última conferência de imprensa de Dani Jarque foi no mês passado, um dia depois de ter sido nomeado patrão do balneário do Espanyol, sucedendo a oito anos de liderança de Tamudo. Foi tímido nas palavras, nunca gostou de se expressar em público. Na escola ficava vermelho como um tomate quando lhe pediam para ler um texto em voz alta. Perante os jornalistas, desviava o olhar.
A postura introvertida fora dos relvados transformava-se em atrevimento quando entrava em campo. No primeiro treino pelo Espanyol, aos 12 anos, disse bem alto: "Sou médio-centro." No entanto, a determinação acabaria por levá-lo a recuar no terreno, assumindo--se como defesa-central. Assim cumpriu grande parte da formação no clube catalão e nas selecções espanholas. Foi campeão europeu de sub-19, ao lado de nomes como Andrés Iniesta, José Antonio Reyes ou Fernando Torres. Chegou à final da Taça UEFA em 2007 (derrota com o Sevilha), mas apontou a vitória na Taça do Rei - frente ao Saragoça - como o melhor momento da carreira.
Apesar do recente interesse de grandes emblemas do futebol europeu, Dani Jarque recusou deixar o clube onde sempre se sentiu bem. Distribuía sorrisos entre os adeptos e não negava um único autógrafo.
Choque O Espanyol estava em Itália para um último estágio antes de começar a época. No sábado, o plantel tinha a tarde livre e todos resolveram dar um passeio por Florença. Dani Jarque ficou no quarto - não estava a sentir-se muito bem - e aproveitou para falar ao telefone com a namorada. Ao fim de alguns minutos, o jogador deixou de responder. Jessica, grávida de sete meses, contactou os responsáveis do Espanyol, que o encontraram inanimado no quarto. Jarque ainda seguiu para as urgências do hospital de Florença, mas os médicos não conseguiram evitar o pior.
Homenagem A tragédia de Dani Jarque antecipou o regresso da equipa a Barcelona. O Espanyol cancelou o jogo com o Bolonha, marcado para ontem, e a comitiva viajou logo que possível para a capital da Catalunha.
As redondezas do novo recinto transformaram-se numa zona de culto para os adeptos periquitos manifestarem o pesar pela morte de um ídolo. A porta 21 - número que Dani Jarque exibia nas costas - serve de ponto de encontro. Camisolas, cachecóis, velas e flores acumulam-se junto à entrada. A tristeza de agora contrasta com a euforia da semana passada, quando o Espanyol derrotou o Liverpool por 3-0 no primeiro jogo aqui disputado. Os pedidos para que o estádio seja baptizado com o nome de Dani Jarque não param de crescer. "Seria o tributo justo", reconhecem os adeptos.
A autópsia realiza-se hoje. Assim que sejam conhecidos os resultados, o corpo será trasladado para Espanha.