quinta-feira, 4 de junho de 2009

Extrema direita à boleia da crise

Kristina Morvai tem três filhos e é uma advogada de sucesso. Respeitada, atraente, é insultada frequentemente quando passeia nas ruas de Budapeste. Chamam-lhe nazi ou fascista. Morvai rejeita as críticas: "Sou uma política decente e não me admito que me chamem nazi", confessa ao "Daily Telegraph". Morvai lidera o Jobbik, movimento de extrema direita anti-semita e homofóbico que cativa 10% dos húngaros nos estudos de opinião para as próximas eleições europeias. Prepara-se para fazer as malas para Bruxelas. Não é a única. Na Holanda, o Partido da Liberdade (PVV) comandado por Geert Wilders pode ver a sua retórica de ódio ao islão ser recompensada pelos holandeses. A avaliar pelas sondagens, o PVV arrecadará três ou quatro mandatos ficando muito próximo dos dois principais partidos holandeses. Há uma explicação para este fenómeno de crescimento da extrema direita por toda a Europa. "Quanto menor a participação eleitoral, maior a probabilidade eleição das franjas", diz Simon Hix, professor da London School of Economics.

Entre os 375 milhões de eleitores, só 150 milhões devem exercer o direito de voto a conta gotas, nos próximos quatro dias. A abstenção por toda a Europa pode atingir os 60% e é entre os países que integraram as últimos alargamentos que o desinteresse é maior. Por exemplo, na Eslováquia, só 17% dos inquiridos dizem estar realmente interessados em votar. Na Polónia, o número sobe, mas pouco (21%).

A abstenção conta apenas parte da história. A crise económica que largou milhões de europeus no desemprego misturada com os escândalos que atingiram em cheio a classe política e o tradicional voto de protesto nas eleições europeias compõem o argumento. O Reino Unido é um exemplo da tempestade perfeita: escândalos, crise e abstenção. Resultado, um primeiro ministro em agonia e um sistema político em convulsão. O Partido Nacionalista Britânico (BNP) tem, de acordo com as sondagens, mais de 8.5% das intenções de voto. Está lançando o pânico nos partidos do ?mainstream? ao ponto de trabalhistas e conservadores se porem de acordo ao catalogarem os membros do BNP como "nazis violentos".

Nick Griffin, o líder de um partido que não aceita "não brancos" como militantes, tem bem vincado o discurso populista: "o Reino Unido gasta 8 mil milhões de euros por ano em ajuda internacional e temos, em nossa casa, reformados a morrer de frio". Por toda a Europa há ainda várias candidaturas, no mínimo, excêntricas. De oligarcas, presidentes de clubes de futebol e modelos.

Se o Tratado de Lisboa entrar em vigor, o Parlamento Europeu sai reforçado como nunca. Pode ser o mais poderoso e o mais esquizofrénico de sempre.

In Ionline

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