quarta-feira, 27 de maio de 2009

Moussavi: o homem que quer tirar Ahmadinejad do poder no Irão

O mais forte opositor do presidente Mahmoud Ahmadinejad atraiu uma multidão exuberante e invulgarmente grande na segunda-feira, durante um discurso de campanha na cidade de Tabriz, no Noroeste do Irão, perto do local de nascimento do candidato, a poucas semanas das eleições nacionais que o actual presidente corre o risco de perder.

A multidão de apoiantes do candidato Mir Hussein Moussavi era extraordinária não só pela dimensão - calcula-se que estavam presentes 30 000 pessoas - mas também porque as pessoas presentes não receberam dinheiro nem comida grátis, não foram transportadas por autocarros fretados, nem lhes tinha sido dada ordem pelos empregadores para participarem - uma táctica por vezes utilizada pela campanha de Ahmadinejad.

Muitas pessoas deslocaram-se em automóveis particulares. Ficaram a saber do comício apesar das restrições governamentais ao site da rede social Facebook, que a campanha de Moussavi tinha vindo a utilizar para espalhar a notícia da sua candidatura entre o eleitorado predominantemente jovem do país. Os apoiantes deram estrondosas boas-vindas a Moussavi, natural de Khameneh, pequena localidade da zona azerbaijanesa do Irão.

"O Azerbaijão é o meu lar; Moussavi é a minha vida!", entoavam em turco-azeri (azerbaijanês turco), o seu dialecto nativo.

A presença de Moussavi no local foi a primeira paragem num périplo de dois dias pelo Noroeste do Irão e insere-se no seu esforço de captar os votos de 15 milhões de falantes de turco em todo o país - cerca de um terço dos eleitores - para as eleições 12 de Junho.

"As pessoas de Tabriz e do Azerbaijão mudaram por várias vezes o destino deste país", diz Moussavi, referindo-se a várias revoltas históricas regionais contra o governo central: "Têm sempre resistido a ditaduras."

O SENHOR MODERADO Moussavi é um ex-primeiro-ministro do Irão, cuja linha moderada tem granjeado o apoio de outros reformadores iranianos - entre eles, o antigo presidente Mohammad Khatami - e tem vindo a posicionar-se como o maior adversário do conservador religioso Ahmadinejad. O homem que pretende "varrer Israel do mapa" tem vindo a perder o apoio das autoridades islâmicas e é actualmente muito criticado pelas dificuldades económicas do Irão.

Se for eleito, diz Moussavi aos apoiantes locais, vai fazer valer a lei constitucional que permite que as línguas das diferentes regiões sejam ensinadas nas escolas, algo que Ahmadinejad não fez. Moussavi apela aos eleitores: "O seu voto é essencial nas eleições."

A mulher do candidato, Zahra Rahnavard, que tem estado na primeira linha da campanha, disse numa reunião com outras mulheres que era a favor da monogamia - embora a poligamia seja permitida por lei - e defendeu mais direitos para as mulheres. É a primeira vez que a mulher de um candidato participa numa campanha no Irão desde a Revolução Islâmica de 1979.

Rahnavard, ex-reitora de uma universidade feminina de Teerão e escultora, surge também nos cartazes da campanha de mão dada com o seu marido Moussavi, uma imagem algo ousada num país em que a socialização entre pessoas de sexos opostos é reprimida pela rigorosa etiqueta social islâmica.

AMEAÇA POLÍTICA? De entre os três candidatos da oposição, Moussavi é considerado a principal ameaça à reeleição de Ahmadinejad. Os outros dois, Mehdi Karroubi, candidato reformista, e Mohsen Rezai, antigo líder dos Guardas Revolucionários, têm ficado para trás nas sondagens.

Ahmadinejad ainda goza de considerável apoio entre os falantes de turco, especialmente nas aldeias rurais mais pobres. Muitos iranianos de baixos rendimentos votaram por Ahmadinejad há quatro anos, acreditando na promessa de que o candidato lhes iria proporcionar melhores condições de vida.

Hassan Nazari, de 75 anos, apoiante de Ahmadinejad em Tabriz, disse na segunda-feira que votaria pela reeleição de Ahmadinejad porque tinha visto que o seu salário aumentou quase cinco vezes, e que a vida dos trabalhadores rurais tinha melhorado.

Porém, os três adversários de Ahmadinejad dizem que esse esforço para ajudar os pobres mais não é do que caridade para comprar votos. E têm-no acusado de conceder empréstimos e oferecer dinheiro em vez de investir em grandes projectos de desenvolvimento.

Os jornais iranianos relatam que os estudantes protestaram em Teerão, depois de o governo de Ahmadinejad ter distribuído 3000 traveller?s cheques de 50 dólares a estudantes, na semana passada.

Os apoiantes de Moussavi têm entoado palavras de ordem como "Morte ao governo das batatas", aludindo à distribuição gratuita que Ahmadinejad fez de 400 000 toneladas de batata pelos habitantes mais pobres do país.

In Ionline

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